segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dia das crianças

Na vida nós só temos dois tipos de problemas: os pequenos e os grandes. Eu sempre enfrentei os dois por causa do meu pai. Os pequenos eram as piadas constantes na escola, no clube, na igreja, e todos os lugares que eu frequentei quando criança. Os grandes eram as necessidades que passei por ser filha de mãe solteira, quantos presentes não ganhos, quantos passeios não realizados, quantas dias sozinha em casa para que minha mãe fosse batalhar pelo meu leite e meu pão. Problemas esses que me fizeram forte, amarga e insensível. Só que, quando eu pensava que já tinha passado por tudo por causa dele, ele veio e aprontou mais uma: resolveu aparecer e enlouquecer de vez minha vida. Agora, além de lembrar as coisas amargas que ele me deixou, me via no dilema de perdoá-lo ou não.
E tudo por causa daquele dia...
 
Era dia das crianças, como de costume, sempre ia ao orfanato brincar com as criancinhas, afinal, elas não tinham ninguém a não ser as poucas almas caridosas que lhe presenteavam de vez em quando. Ao chegar lá, encontrei um senhor, alvo, jovem e com ar de vaidoso, distribuindo presente àquelas crianças. Ao me olhar senti algo que nunca havia sentido antes. Um arrepio me cobriu da cabeça aos pés, como se eu tivesse medo ou como se ele fosse mágico e conseguisse me amedrontar com seu olhar.
Ao me aproximar do que via, ele me comprimentou e perguntou se eu podia ajudar. Eu respondi que sim e fiquei ajudando-o a tarde inteira. No fim desta, ele elogiou meu pingente e perguntou quem havia me dado. Eu lhe contei toda a história de meu pai em um breve resumo. Ele não se distraiu um segundo, estava atento e ao terminar, ele perguntou se podíamos tomar uma café. Ué, eu tinha 28 anos, ele já aparentava seu quarenta e pouco, seria pouco provável ele estar me cortejando. Hesitei em responder, mas ele me parecia tão bondoso que não achei motivo para não aceitar o convite.
Fomos ao café movimentado e por mim bastante frequentado, afinal, se ele me fizesse algum mal, meus conhecidos notariam. Fizemos os pedidos e ele começou a contar sua história. E pediu que eu não o interrompesse. Mal sabia eu que ele estava prestes a me dizer que era o culpado por todo o sofrimento que passei.
"Quando jovem, tive uma namorada, ela era linda, me amava como nenhuma mulher me amou, fazíamos planos para o futuro e estávamos prontos para entrar na faculdade. Até que aquela notícia estragou nossos planos. Ela estava grávida. Foi o fim, meus pais logo me mandaram para a faculdade sem ao menos me despedir dela, e desde daquele dia, nunca mais a vi. Quando fiquei independente, fui tentar procurar ela, mas não a encontrei, passei anos e anos a fio procurando, mas quanto mais eu procurava, mais ela se escondia. Até que um dia, o detetive me ligou, disse que havia achado milha filha, uma linda jovem e que apesar de tudo estava bem. Pedi a ele que a investigasse e me mandasse toda sua rotina; eu sabia todos os seus passos, mas não tinha coragem de ficar frente a ela e pedi perdão. Hoje era o dia. Talvez o pior dia para ela, pois desde pequena, mesmo sendo frágil, viveu amargurada por não ter seu pai ao lado no dia que é feito para as crianças estarem com seus pais. Então, como entre nós dois não cabe mais nenhum segredo, tomei coragem e vim hoje olhar nos seus olhos para pedir perdão, minha filha. Mesmo que você me odeie, mesmo que sua mãe tenha morrido me odiando, saiba que eu sempre amei as duas com todas as minhas forças e saiba também que eu farei de tudo para ter o seu amor."
Aquele discurso me fez derrubar lágrimas, ora quentes de ódio, ora quentes de amor. Saí da mesa sem olhar para trás, e não sei que rumo tomar agora.

*História fictícia.
Beijos, Tay.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssima história! (: