- Filha, não esqueça de comprar o pão pra sua irmã tomar café, hein?! - Uma mulher me disse isso e saiu quase correndo, toda arrumada para algum lugar, provavelmente o trabalho.
Tava tão sonolenta que nem entendi direito o que ela falou. Depois de uns cinco minutos levantei assustada 'COMO ASSIM FILHA?' Corri a procura de alguma informação. Saí do quarto onde estava e me deparei com três portas brancas. Um do lado do quarto onde estava e duas do lado contrário. Abri a que estava do meu lado. Tinha uma garota que eu nunca tinha visto; ela também tinha acabado de se acordar e me chamou de mana. 'UÉ, EU NÃO CONHEÇO ESSA MENINA E MUITO MENOS AQUELA MULHER QUE ME CHAMOU DE FILHA? FUI SEQUESTRADA, SÓ PODE.'
Esse foi o ápice pra eu sair correndo casa afora. Ao sair, percebi que TUDO ao meu redor era irreconhecível. Não me vinha na mente nada do meu passado, do meu presente, nada. Nem meu próprio nome. Eu era apenas um animal racional no planeta. Sem registros, sem voz, sem eu mesma.
Comecei a chorar, não fazia sentido. Eu tinha ido dormir e acordei com tudo apagado da minha memória. Como?
Nessa hora, uma garota, aparentemente da minha idade, chegou e me perguntou porque eu estava chorando. Hesitei em responder. Mas de que adiantaria, se eu não tinha niguém mais? Ou melhor, não lembrava de mais ninguém? Disse tudo o que tinha acontecido. Ela olhou pra mim e sorriu. Sorrir foi pouco, ela gargalhou. Eu não entendi. Ela me disse a coisa mais hilária que poderia acontecer na vida de alguém: eu estava em transição. Ela me disse que a transição era como formatar o PC, tudo era apagado por horas, dias, semanas, meses ou anos. 'ANOS? EU IRIA MORRER SE PASSASSE MAIS DIA SEM LEMBRAR QUEM EU ERA' Ela me falou que estava lá a anos. E por vontade própria. Disse que a vida era bem mais interessante quando você vivia e no outro dia vivia a mesma coisa de novo sem se lembrar do que aconteceu. Não teríamos responsabilidades, compromissos, raivas permanentes ou tristezas eternas. Alegrias seriam temporárias, pra você vivê-las bem. Amores não existiriam, então não teríamos que nós preocupar com o que devíamos fazer ou não. Enfim, seria uma vida sem limites, porém sem recordações. 'QUAL GRAÇA DISSO?'
De que adiantaria uma vida repleta de felicidade e liberdade, se nunca nos recordaríamos disso? Foi pra isso que fomos feito com memória, pra lembrarmos de tudo, ou quase tudo. Tristezas, alegrias, amores, desilusões, sorte ou azar, temos que lembrar disso. Não gosto do meu passado, mas não é por isso que eu quero apagá-lo, meu presente nem sempre é um presente, mas nem por isso eu quero esquecê-lo amanhã. Eu não gosto e não quero transição alguma.
Nessa hora acordei. Assustada, ouvia alguém querendo derrubar minha porta de tanto bater. Quando abri, minha mãe quando me derruba do grito: 'VOCÊ QUER PERDER O ÔNIBUS DA ESCOLA, É?' Depois do susto, não lembrava mais de nada. O que quer que tivesse acontecido, tinha sido deletado da memória. Apenas tinha isto escrito no bloquinho do lado da cama.
Beijão
Post feito pra o BLORKUTANDO.
PS: Gente, eu sei que foi longuinho, mas eu me empolguei ao som do Paramore.
Um comentário:
Longuinho, mas eu li tudo. Sei muito bem como é se empolgar na hora de escrever, isso também acontece comigo, haha.
Realmente não seria nada legal perder todas as lembranças que tenho da minha vida. Imagina ter que passar por tudo de novo? Recomeçar do zero e ainda ter que descobrir quem você é. Dá muito trabalho! Os momentos são realmente preciosos para serem perdidos, sejam os felizes ou os tristes, em que erramos. Aprendemos com os nossos erros, e isso é ótimo, não quero esquecer essas lições! Acho que apenas aquilo que nos envergonha e não acrescenta em nada em nossas vidas é poderia ser deletado. Por exemplo: eu tropecei no desfile da minha formatura, todo mundo riu da minha cara e eu passei a maior vergonha. Isso acrescentou alguma coisa em minha vida? Não e vou odiar esse momento para o resto da minha vida! Por isso gostaria de deletar. '-'
Veja só, me empolguei no comentário, haha. Parabéns pelo segundo lugar no Blorkutando! :*
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